sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A moeda

O discípulo pergunta ao mestre:
– Porque as vezes perdemos as batalhas que lutamos contra nós mesmos?
O mestre pergunta:
– Quando uma moeda é lançada e cai com uma das faces voltadas para
cima, a moeda ganhou ou perdeu?
O discípulo:
– Depende de qual face foi escolhida.
O mestre insiste:
– Não importa a face mostrada, a moeda ganhou ou perdeu?
O discípulo franze a testa, pensa e, meio confuso quase que balbucia, dando de ombros:
– A moeda?... Não sei dizer.
Compreenda que desde que o mundo é mundo ouvimos falar em guerras, que é o lutar para não perder ou, até mesmo, não morrer. Muito ouvimos sobre guerras históricas, mas pouco sabemos sobre as batalhas. Não me refiro às célebres batalhas entre povos inimigos. Refiro-me as lutas travadas nos bastidores dos campos de batalha. As informações elencadas para conhecer melhor o inimigo, seus pontos
fortes e suas fraquezas. Ou ainda, a estratégia estabelecida pelos generais para melhor utilizar seu arsenal e a luta do soldado de menor patente para vencer seus medos.
Se quase nada sabemos sobre esses detalhes que diz respeito a outras pessoas, outras realidades, o que podemos dizer sobre as batalhas que cada ser humano trava consigo mesmo?
Quando perdemos uma batalha para nós mesmos, sempre lembramos da derrota, esquecendo-nos que somos, ao mesmo tempo, vencidos e vencedores, pois se lutamos conosco, perdemos e ganhamos de nós mesmos. Porque então focar apenas nas nossas fraquezas se temos também a força de vencer a nós mesmos?
No caso específico das batalhas que travamos conosco, existe uma linha muito tênue entre a vitória e a derrota. Essa linha é apenas o fio da meada da nossa consciência.
Não podemos nos esquecer que temos dentro de nós o soldado derrotado, mas também o general que foi o artífice da vitória sobre nós mesmos. E se toda vez que nos colocarmos na posição do “nosso soldado” derrotado soubermos aprender com “nosso general”, iremos subir na nossa “hierarquia interior” e seremos agraciados com a “patente” da experiência, primeiramente, depois a do conhecimento, em seguida com a da sabedoria e, finalmente, a da iluminação.
Nas batalhas da vida, se ficarmos na situação de um dos contendores, que contam com o acaso quando a moeda é lançada, sempre nos sentiremos vencedores ou perdedores, dependendo do fator sorte. Se nos colocarmos no lugar da moeda no jogo da vida, não nos importa a face que ficou voltada para o chão, pois saberemos que temos nosso outro lado, o de vencedor. Da mesma forma, deveremos ter prudência para quando a sorte nos sorri, já que não devemos nos esquecer que, por vezes, temos o outro lado inverso “cunhado” em
nós.
(Autor: Paulo Cesar Paschoalini - pirafraseando.blogspot.com)

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Crises necessárias

Durante vários séculos a humanidade conviveu com a impotência sobre grande partes das doenças e pragas que, às vezes, dizimavam comunidades inteiras. Também a fome, gerada pelas dificuldades de um modo de vida que padecia à mercê dos humores da natureza, causava grande penar às pessoas.
Incutia-se no pensamento do mundo ocidental que o martírio, tal qual aquele sofrido por Jesus Cristo, era o único caminho para a salvação e a máxima que pregava “o sofrimento como forma de purificação” espalhava-se feito fogo em palha seca por todo o Ocidente.
Mas o advento do desenvolvimento científico e as conquistas alcançadas pela medicina em função desse progresso começaram a mudar esse cenário. Agora era possível desafiar a foice da morte e sair ileso por um longo período durante a vida adulta e a velhice.
Esses fatores, somados à abundância proporcionada pelo novo modo de vida baseado no desenvolvimento industrial gerou a idéia de que o prazer e a felicidade sim é que eram os objetivos da humanidade. O pêndulo invertia seu movimento.
Hoje, vivemos num mundo onde essas duas metas são obsessões tão marcantes que ao menor sinal de crise usa-se um batalhão de recursos para tentar suspendê-la. Remédios, tecnologia, opções de lazer abundantes e outros tipos de fuga envolvem as pessoas em um falso casulo aonde acreditam erroneamente que não precisarão enfrentá-las.
Mas as crises são necessárias!
Não que devamos procurá-las, mas tampouco devemos evitá-las. É preciso vivenciá-las, de preferência apoiados em pessoas com capacidade para ajudá-lo na compreensão de seu propósito, de modo a superá-las e, com isso, dar um ou alguns passos a mais na escalada da evolução espiritual.
Parafraseando o Padre Fábio de Melo em seu livro "Quando o sofrimento bater à sua porta", é preciso acolher a crise sem deixar que ela nos destrua ou tire nossa vontade de viver.
Da maneira como vivemos hoje, fazendo da crise um vilão extremamente perigoso, o maior dos demônios, talvez, acabamos por criar um exército de pessoas despreparadas para suas investidas futuras e que certamente virão.
A crise é uma possibilidade de aprender novos conceitos, novas capacidades e, se bem trabalhada e resolvida, é uma bela chance para uma maior compreensão sobre a vida, o Universo, a criação, e, principalmente, sobre si mesmo.
O mestre indiano Osho, em um de seus discursos, abordou a idéia de que tudo na existência funciona como um pêndulo que hora movimenta-se para um lado, ora para outro. E, ao movimentar-se para um dos lados, gera e acumula energia contrária na mesma proporção de seu deslocamento. Ou seja, o movimento de volta terá o mesmo impulso e a mesma força da trajetória para qual está se dirigindo.
Fugir de toda e qualquer crise, buscar obsessivamente o prazer e a felicidade é empurrar o pêndulo cada vez mais para um dos lados, gerando e acumulando energia para que ele retorne de forma provavelmente catastrófica para o outro lado.
As técnicas de meditação são uma poderosa aliada para atravessar as crises e evoluir com elas, diminuindo seus efeitos nefastos e aumentando os momentos de paz e serenidade. E o estudo filosófico constrói a base de sustentação dessa evolução.
São nesses apoios que nosso Centro procura se especializar e difundir, como forma de contribuir para a evolução do espírito humano.
(Autor: Alex Francisco Paschoalini)

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Nosso fim, nosso começo - Comentário


Continuando a postagem anterior, gostaria de comentar um pouco sobre essa obra de arte de Guilherme Arantes.
Esta música surgiu no final de minha adolescência e começo de minha juventude. Serviu para ajudar a destruir mitos antigos e descartar velhas crenças, dando espaço para o desenvolvimento de novos sonhos e a criação de novos ideais. Mas, acima de tudo, serviu para me fazer olhar para dentro, tentando perceber o que realmente eu era e em que realmente eu acreditava.
O que eu esperava do futuro? Qual era a base de minhas crenças? Quem eram meus heróis? O que eles tinham de real e até onde eles podiam me ajudar? O que é a verdade e até onde podemos compreendê-la? É possível discernir entre o bem e o mal sem atá-los a nossas crenças? Como devo acreditar na lógica vigente e até que ponto ela nos limita? Do que ou de quem realmente eu tenho medo? O que eu acharia em meu avesso? Qual o peso de meu avesso em meu ser?
Descobri que o avesso está mais próximo do direito do que imaginamos. E que todo fim é um novo começo, que também acaba tendo um fim. Percebi que não devo esperar as respostas; devo buscá-las. Compreendi que se a palavra “esperança” for interpretada como “não desistir” ela é válida, mas se for entendida como “aguardar, deixar acontecer”, é um enorme erro. Aprendi que as lendas devem servir para nos ensinar lições e desafios e não para nos ditar regras de conduta.
Pude entender que não deveria aceitar os paradigmas sem antes questioná-los e compreendê-los, ao menos em parte. E que sempre paradigmas novos surgem para substituir os velhos.
Enfim, a arte pode servir para nos acalmar, nos divertir, nos maravilhar. Mas deve servir também para nos fazer transcender nossos limites, aguçar nossas compreensões sobre nós mesmos, redirecionar nossos passos pelos caminhos da vida.
É um dos quatro pilares que sustentam a evolução humana e só tem seu verdadeiro valor se atrelado aos outros três: a ciência, a filosofia e a fé.
Creio que essa composição de Guilherme Arantes seja capaz disso. Ao menos, para mim, foi até além disso: me serviu de inspiração para algumas de minhas importantes decisões.

(Autor: Alex Francisco Paschoalini)

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Nosso fim, nosso começo

Resgate de uma grande poesia musicada de Guilherme Arantes, de 1987, que fez relativo sucesso à época, mas, infelizmente, foi esquecida. Vejam que grande mensagem. Não seria um convite ao auto-conhecimento?


Talvez
O futuro nos prepare uma supresa
Um resgate nesta louca correnteza
Qualquer nave que nos leve
Pelo espaço, encontrar os deuses
Talvez
Um herói venha a surgir por entre as cinzas
Da ruínas se levante e alcance a glória
Na moral da hitória
O mito acabe com a razão
Mas a verdade está acima do bem e do mal
Nossa lógica furada é a arma mais mortal
A raiz de todo o erro
A medida desse medo de mudar e achar o avesso
Nosso fim, nosso começo

É a nossa visão congelada no tempo
Esperando as respostas caírem do céu
Acreditar nas lendas do que virá
É um álibi perfeito e tudo fica como está

Autor: Guilherme Arantes (1987)

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Êxtase: o ápice e o fim de um ciclo

Por quê a felicidade não é, nem nunca poderá ser constante? Porque nada pode ser constante, eterno. Algo constante se torna mundano. Um êxtase, um clímax, não pode ser constante, ou perde o sentido. Como você pode reconhecer o clímax como tal se ele estiver sempre presente?
Como pode saber que vive em constante felicidade se estiver nela sempre? Se não puder sentir tristeza, nunca irá saber que esteve feliz.
O oposto sempre será necessário, não apenas para se compreender algo, mas para valorizá-lo também.
É necessário sentir-se triste. É necessário sentir monotonia, angustia, decepção. Não é necessário se entregar a estes sentimentos, mas sim conhecê-los.
A partir deles, se valoriza seu oposto. Portanto, tão importante quanto estar feliz, é conhecer a tristeza também. Se a felicidade for sempre e apenas felicidade, ela perde seu sentido, seu propósito e passa a ser mundana.
Tudo que é constante, perde seu propósito e seu valor. Não que não o tenha, mas deixa de ser notado.
Tome a própria vida como exemplo. A vida é uma constante. Ela ocorre e se mantém e segue até o seu fim. Apesar de seus altos e baixos, a vida, enquanto estamos vivos, é sempre vida, e nada além disso. E por ser constante, poucas vezes notamos a sua beleza, o seu valor.
A vida é uma benção, um milagre. Mas por sua constância, por tê-la sempre presente, não a damos o devido valor. A não ser quando nos aproximamos da morte, seja pela partida de um ente querido, seja por uma doença, seja pela idade.
A partir disso, pode-se concluir que, como tudo mais no universo, a vida também só pode ser completa se conhecermos seu oposto. Apenas assim, poderemos apreciá-la em toda sua plenitude.
Apenas ao conhecer seu oposto, a morte, poderemos saber completamente o que é a vida.
A morte, portanto, é o ponto máximo, o clímax da vida! O momento em que tudo se fecha, onde tomamos o conhecimento máximo do que é a vida, onde ela alcança seu ápice.
Mas como podemos viver esse êxtase se ele se dará apenas na morte? Compreendendo e vivenciando a morte em seus aspectos mais profundos em nosso dia-a-dia. Percebendo que cada ciclo que se fecha é uma espécie de experiência de morte e deve ser celebrado com sua total completude.
Onde a vida deixa de ser uma constante e passa a ser seu oposto, podemos finalmente senti-la em toda sua plenitude.

(Autor: Jean Roberto Paschoalini)

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O despertar da consciência


“De repente, tudo parece estar sem sentido! Já não sei mais quem sou, o que faço, porque faço, o que quero. Não sinto o chão sob meus pés e acho que nunca mais o tocarei. Tudo o que fiz e vivi foi em vão e me levaram a um beco sem saída. Quero achar um jeito de fugir disso, mas será que vou conseguir?”
“De repente, percebi que lentamente as coisas estavam tomando seu devido lugar. Tudo parecia ficar mais claro; as cores, mais nítidas. Há algo de bom brotando dentro de mim e me transformando, aos poucos, em alguém melhor. Espero que essa mudança dure para sempre!”
“De repente, notei que as coisas já não se encaixavam mais. Não queria mais continuar naquela rotina meio sem sentido. Teria que haver alguma maneira de passar pela vida compreendendo e vivendo mais seus significados. Não posso acreditar que a vida seja simplesmente nascer e morrer!”
“De repente, uma explosão de êxtase tomou conta de todo meu ser, de meu corpo, minha mente, minha alma. Já não sentia mais a densidade de meu ser. Não havia pensamento, não havia dúvidas, palavras. Só o total e completo encantamento. Era como se eu me expandisse do tamanho do Universo ou como se o Universo inteiro repousasse dentro de mim. Não havia mais separação entre meu eu e Deus!”
O despertar da consciência é algo que não pode ser quantificado ou qualificado, nem mesmo agendado ou prometido. Ele simplesmente acontece! Às vezes, de forma lenta, outras vezes, arrebatadora. Alguns sentem sua agradável chegada, outros, sua dolorosa fúria.
Tudo depende da experiência ou das experiências que o levaram a esse despertar; do estágio em que você se encontra no caminho evolutivo de sua existência; das pessoas que lhe deram e dão suporte; enfim, de uma infinidade de momentos e situações.
Porém, para todos os que viverem esse despertar haverá uma transformação. É o caminho sem volta da evolução do Cosmos, do Universo, da vida, do Criador. Todos nós passamos ou passaremos, em algum momento de nossa existência, por essa metamorfose.
Fugir desse despertar é apenas adiar sua chegada. E quanto mais se foge, mais muralhas terão que ser destruídas, mais trincheiras terão que ser suplantadas dentro de você mesmo para alcançar essa dádiva.
Que tal aceitar esse despertar, ou mesmo procurá-lo, a fim de tornar-se um ser humano mais consciente, mais harmonizado com bailar da existência.
Essa é a nossa proposta!

(Autor: Alex Francisco Paschoalini)