sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Uma história sobre redenção

Para aqueles que leram as duas últimas postagens e, talvez, julgaram que só consigo ter essa perspectiva positiva da vida graças aos êxitos alcançados nessas histórias, é importante que se mostre o outro lado da moeda.
No auge de seus 42 anos de idade, na fase que poderia ter sido o ápice de sua maturidade, meu irmão mais velho, aquele a quem, na infância, eu chamava de mestre e que me tratava como discípulo, faleceu vítima de um infarto fulminante. Uma depressão persistente durante mais de dois anos e profunda nos últimos meses exauriu-lhe gradativamente as forças e culminou no acidente vascular que o levou de nós. Uma capacidade intelectual incrível sendo vencida pelos labirintos de sua própria mente.
Como herança dessa partida prematura, três filhos ainda bem jovens e uma imensa saudade por parte de seus pais e irmãos.
Li tempos atrás no livro “Quando o sofrimento bater à sua porta”, do Padre Fábio de Melo, que a morte deve ser transformada em redenção por aqueles que ficaram. Redenção no aspecto de redimir os erros sem repetí-los e salvar a memória daquilo que foi aprendido e ensinado por quem partiu. Mais do que ressuscitar os mortos, a redenção deve servir para acordar os vivos.
Tratamos de dar apoio aos três jovens que ficaram nos mais variados aspectos necessários para o desenvolvimento deles. De minha parte, procurei orientá-los em suas caminhadas psíquicas e espirituais, mostrando a eles que a fatalidade era inevitável, mas que era possível torná-la um aprendizado ao invés de um calvário.
E eles aprenderam logo que preservar a memória do pai era, antes de mais nada, não lamentar essa separação precoce e inesperada. Conseguiram transformar seus aprendizados em uma seqüência das coisas que ele havia aprendido e os erros dele em um alerta, tornando-os, de maneira jocosa, em uma lembrança divertida de sua imagem humana imperfeita.
Ainda citando o livro do Padre Fábio de Melo, uma das depoentes afirmou que a morte de seu filho revelou partes da essência dela escondidas nos cantos de seu ser que somente essa dor poderia revelar.
Hoje sei que é fato que os momentos revelam coisas apenas a quem os vive, sejam felizes ou dolorosos. Também nós nos apegamos a essa filosofia, e a cada dia tentamos transformar o pesar de sua partida em uma oportunidade de aprender e ensinar algo novo.
Não é mais o caso de como conviver com essa perda, mas a idéia de o que fazer da vida a partir dela. Deixar a morte sepultada em seu túmulo e levar à redenção as coisas que fizeram a vida dele valer a pena.
Talvez nenhum de nós, ou nossos filhos, ou os filhos de nossos filhos possa ter novamente, em algum lugar ou plano, a oportunidade e o prazer de olhar naqueles sábios olhos ou de receber seu largo sorriso. Mas a semente de sua essência, plantada pelo Criador quando o trouxe a vida, está sendo muito bem cultivada e, certamente, gerará sombras refrescantes, flores perfumadas e frutos doces mesmo àqueles que jamais suspeitarão que um dia ele existiu.
(Autor: Alex Francisco Paschoalini)

2 comentários:

  1. Alex,
    Sem maiores comentários! Trouxe a lembrança dessa doce pessoa, com leveza, com luz, que não deixam a sombra da saudade e da perda tomarem conta de nossos pensamentos. Parabéns pelo artigo!
    Bjs,
    Ana Maria

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  2. Alex,

    Você não só está escrevendo bem como semeando o bem. Este artigo é, talvez, e sem desmerecer os demais que você escreveu, um dos textos mais profundos e positivos que já li.
    Infelizmente, ou inevitavelemte, é preciso que a "semente morra", ou se transforme, para que uma nova flor possa desabrochar um dia. Mas só brotará se o solo for fecundo e devidamente preparado. Dessa forma, prossiga a sua semeadura. Quer seja nos bancos de escola ou nos momentos de meditação. Quer seja através da respiração, da inspiração ou dos textos que nos faz perder o fôlego.

    Paulo

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