No auge de seus 42 anos de idade, na fase que poderia ter sido o ápice de sua maturidade, meu irmão mais velho, aquele a quem, na infância, eu chamava de mestre e que me tratava como discípulo, faleceu vítima de um infarto fulminante. Uma depressão persistente durante mais de dois anos e profunda nos últimos meses exauriu-lhe gradativamente as forças e culminou no acidente vascular que o levou de nós. Uma capacidade intelectual incrível sendo vencida pelos labirintos de sua própria mente.
Como herança dessa partida prematura, três filhos ainda bem jovens e uma imensa saudade por parte de seus pais e irmãos.
Li tempos atrás no livro “Quando o sofrimento bater à sua porta”, do Padre Fábio de Melo, que a morte deve ser transformada em redenção por aqueles que ficaram. Redenção no aspecto de redimir os erros sem repetí-los e salvar a memória daquilo que foi aprendido e ensinado por quem partiu. Mais do que ressuscitar os mortos, a redenção deve servir para acordar os vivos.
Tratamos de dar apoio aos três jovens que ficaram nos mais variados aspectos necessários para o desenvolvimento deles. De minha parte, procurei orientá-los em suas caminhadas psíquicas e espirituais, mostrando a eles que a fatalidade era inevitável, mas que era possível torná-la um aprendizado ao invés de um calvário.
E eles aprenderam logo que preservar a memória do pai era, antes de mais nada, não lamentar essa separação precoce e inesperada. Conseguiram transformar seus aprendizados em uma seqüência das coisas que ele havia aprendido e os erros dele em um alerta, tornando-os, de maneira jocosa, em uma lembrança divertida de sua imagem humana imperfeita.
Ainda citando o livro do Padre Fábio de Melo, uma das depoentes afirmou que a morte de seu filho revelou partes da essência dela escondidas nos cantos de seu ser que somente essa dor poderia revelar.
Hoje sei que é fato que os momentos revelam coisas apenas a quem os vive, sejam felizes ou dolorosos. Também nós nos apegamos a essa filosofia, e a cada dia tentamos transformar o pesar de sua partida em uma oportunidade de aprender e ensinar algo novo.
Não é mais o caso de como conviver com essa perda, mas a idéia de o que fazer da vida a partir dela. Deixar a morte sepultada em seu túmulo e levar à redenção as coisas que fizeram a vida dele valer a pena.
Talvez nenhum de nós, ou nossos filhos, ou os filhos de nossos filhos possa ter novamente, em algum lugar ou plano, a oportunidade e o prazer de olhar naqueles sábios olhos ou de receber seu largo sorriso. Mas a semente de sua essência, plantada pelo Criador quando o trouxe a vida, está sendo muito bem cultivada e, certamente, gerará sombras refrescantes, flores perfumadas e frutos doces mesmo àqueles que jamais suspeitarão que um dia ele existiu.
(Autor: Alex Francisco Paschoalini)
Alex,
ResponderExcluirSem maiores comentários! Trouxe a lembrança dessa doce pessoa, com leveza, com luz, que não deixam a sombra da saudade e da perda tomarem conta de nossos pensamentos. Parabéns pelo artigo!
Bjs,
Ana Maria
Alex,
ResponderExcluirVocê não só está escrevendo bem como semeando o bem. Este artigo é, talvez, e sem desmerecer os demais que você escreveu, um dos textos mais profundos e positivos que já li.
Infelizmente, ou inevitavelemte, é preciso que a "semente morra", ou se transforme, para que uma nova flor possa desabrochar um dia. Mas só brotará se o solo for fecundo e devidamente preparado. Dessa forma, prossiga a sua semeadura. Quer seja nos bancos de escola ou nos momentos de meditação. Quer seja através da respiração, da inspiração ou dos textos que nos faz perder o fôlego.
Paulo