Assisti, recentemente no facebook, um vídeo do Padre Fábio de Melo,
a quem admiro muito, em que ele aborda de maneira ímpar o assunto
envelhecer. Achei inspiradora sua explicação sobre a beleza da
inutilidade na velhice: “... só nos ama, só vai ficar até o fim
aquele que, depois da nossa utilidade, descobriu o nosso
significado”.
Coincidentemente,
estava lendo por esses mesmos dias o livro “A Filosofia Perene”,
do filósofo Aldous Huxley, e encontrei um texto creditado ao frade
domenicano Eckhart de Hochheim que dizia o que se segue: “Deve amar
a Deus como não Deus, não Espírito, não pessoa, não imagem; deve
amá-lo como é, o puro Um absoluto, separado de toda dualidade e em
quem devemos eternamente nos fundirmos de nada em nada”.Inevitavelmente, essas duas fontes de inspiração se juntaram para criar conjecturas em minha cabeça. As três religiões fundamentais do Ocidente são teístas e dentro dessa pessoalidade vislumbrada de Deus parece prevalecer a concepção de Sua utilidade. Deus é aquele que nos conforta em nossa dor, aquele que nos redime com seu perdão, aquele que nos salva de nossas falhas, aquele que nos atende com seus milagres, aquele que nos guia em nossa falta de luz. Em todos os casos, Ele nos é útil.
Mas existe a concepção deísta do Criador, muito mais comum entre os orientais e algumas comunidades primitivas. Nessa forma de enxergá-Lo, aceita-se apenas que é um princípio criador e que determinou as regras da existência, não tendo nenhuma participação ou utilidade pessoal no momento presente. O deísmo parece compreendê-Lo muito mais como essência e significado do que como utilidade.
Então me pergunto: Será que nossa concepção teísta não nos leva a amar a Deus muito mais por sua utilidade do que por seu significado? Será que a concepção deísta não se aproxima mais da verdadeira compreensão sobre o Criador? Será que nossa adoração teísta não é a adoração de quem necessita dele em suas preces ou em alguma circunstância de nosso dia-a-dia? Será que não está na hora de nós, ocidentais, buscarmos uma melhor compreensão sobre a mística deísta da divindade no âmago de cada ser, sem a necessidade do Deus externo, que nos julga, pune ou premia? E, por fim, será que nossa concepção teísta será capaz, um dia, de amá-Lo em sua inutilidade, sem preces, pedidos, milagres, agradecimentos, promessas, lamentos ou culpa? Amá-Lo apenas em e por sua essência?
Autor: Alex Francisco
Paschoalini